Título: Sobre
mães, filhos, esposas e maridos
Autor:
Wellington S.O.
Editora:
APED
Páginas:
430
Ano: 2013
Sinopse: A
estória acompanha trinta anos da vida de uma mãe possessiva que tenta não
deixar transparecer suas emoções, seu filho que busca a verdade sobre o
falecido pai e sua filha adotiva que luta contra os fragmentos do seu passado
que insistem em retornar. Esse pequeno épico familiar aborda temas como adoção,
excesso de amor maternal, casamento e busca pela própria identidade. Com um
ritmo ágil e bem humorado irá divertir, comover, surpreender e dará muito que
pensar a seus leitores.
***
Nesta
estória somos apresentados a Dona Carmem, a mãe possessiva, e seus filhos
Vincent e Alicia.
Desde
o início podemos ver o quanto ela é apaixonada pelo filho – Paixão não é um
sentimento destinado apenas aos casais. A paixão pode ser entre uma mãe e seus
filhos, entre amigos, entre uma pessoa e um objeto. Na paixão a mãe cria os
filhos para si. No amor ela cria os filhos para a vida.
E
esta diferença ficou explícita neste livro. A Carmem criou o Vincent para ser
dependente dela. Até mesmo as “festas” de aniversário dele quando criança eram
apenas para os dois – o pai nunca estava presente mas isso não seria
impedimento para chamar outras pessoas para comemorar.
Após
a morte do marido ela passou a ser ainda mais agressiva para lidar com as
pessoas. Sempre com uma resposta ríspida na ponta da língua.
E
isso não muda quando ela resolve adotar a Alicia pois a paixão foi direcionada
também para a filha.
No
decorrer da estória vamos sendo conduzidos a conhecer os verdadeiros motivos que
a levaram a ser deste jeito: Foi criada pelos avôs que acreditavam que não se
deve chorar na frente das pessoas para não demonstrar fraqueza. Casou-se e
acabou sofrendo uma grande decepção com o marido. Os dois fatos acarretaram num
endurecimento dos sentimentos sobrando espaço apenas para os filhos e sua amiga
Lola.
O
que achei mais interessante foi o fato de cada capítulo ser narrado por um dos
protagonistas. Desta forma temos uma visão mais detalhada dos acontecimentos
pois passamos a olhar os fatos através de três pontos de vista.
Podemos
acompanhar o desabrochar da vida tanto do Vincent quanto da Alicia. Suas
peripécias de crianças, suas descobertas de adolescentes, seus primeiros contatos
com a paixão e com o amor, suas dores, suas dúvidas, seus erros e seus acertos.
Esta
é o tipo de estória que faz o leitor parar para pensar sobre a própria vida.
São tantos acontecimentos semelhantes ao que ocorrem no nosso dia a dia que é
como se estivéssemos lendo um diário de alguém bem próximo a nós.
Sempre
digo isso: Quem nunca teve uma desavença com a mãe que atire a primeira flor –
pedra machuca muito.
Acredito
que este é o relacionamento mais difícil que temos que enfrentar. São dois
motivos que torna este relacionamento difícil: as mães esquecem que já foram
crianças e adolescentes. Os filhos não pensam que no futuro serão os pais e terão
que lidar com os próprios filhos.
As
mães da época desta estória foram criadas com esta mentalidade de que demonstrar
os sentimentos não é aceitável Têm que ser as duronas com coração de pedra. Casavam-se
para constituir família e na maioria das vezes sem amar o marido.
Por
se sentirem frustradas com o casamento transferiam a afeição exclusivamente
para os filhos a ponto de virar obsessão. Elas sufocavam os filhos com a atenção
exagerada com a “desculpa” de serem assim por amar demais.
As
mães de hoje se casam pelo status de estarem casadas. Para ter uma estabilidade
financeira ou por estarem apaixonadas. Enchem seus filhos de presentes mas não
são capazes de lhes dar o que qualquer ser humano mais deseja: amor.
São
os extremos: Numa época elas asfixiam os filhos de atenção e na outra asfixiam
os filhos com a ausência. E este padrão de comportamento também é executado
pelos pais.
É claro
que isto não é uma regra – graças a Deus – e que muitas mulheres se casam por
amor e são capazes de amar seus filhos.
O que as
pessoas devem aprender é que não existe isso de amar demais ou amar de menos.
Ou ama ou não ama.
O
livro é recheado de lições que se forem absorvidas pelos leitores poderão mudar
completamente suas vidas.
Temos
várias questões para refletir: A não aceitação da opção sexual. O uso de
drogas. As brigas sem sentido que abrem fendas na alma. Enterrar o passado para
viver o presente. Aprender a mar de verdade.
Confesso
que o Wellington conseguiu uma coisa rara: Me fez terminar a leitura com
lágrimas nos olhos. A estória nos toca de uma forma tão profunda e o final é de
partir o coração.
Nossa
vida é tão curta para perdermos tempo com brigas bobas, sendo ríspidos com o
outro, não demonstrando nossos sentimentos. E depois tudo o que resta é o
arrependimento pelas palavras duras ditas ao outro ou as palavras não ditas.
Não
é verdade que não levaremos nada desta vida quando chegar nossa hora de ir ao
encontro com Deus. Nós levaremos e seremos responsabilizados por cada sorriso e
por cada lágrima que provocamos no outro. Cada dor, cada mágoa, cada gotinha de
lágrima será pesada não por Deus mas pela nossa própria consciência. Se foi você
a sofrer o que será pesado será sua capacidade de perdoar.
Falar
deste tema – família- é realmente andar em areia movediça. Se não tivermos
cuidado poderemos ser sugados para o abismo.
E
o Wellington conseguiu andar por sobre a areia e nos mostrar um conto de fadas
real. Ele nos mostrou o que acontece depois da tão famosa frase: E foram
felizes para sempre. Para ver o arco-íris é preciso passar primeiro pela
tempestade. E poucos são os privilegiados que podem contemplá-lo.
Um leve bater de asas para todos!!!!